Esta técnica começou a ganhar popularidade durante o período Kamakura (1185-1333) no Japão, embora as suas origens remontem a períodos anteriores. Inicialmente, era utilizada para produzir utensílios do quotidiano e objectos funcionais, mas, com o tempo, o seu valor estético foi sendo cada vez mais apreciado, tornando-se uma forma de arte respeitada e cobiçada.

A essência do Yakishime reside na sua simplicidade e complexidade inerente. É a alquimia da transformação do barro em pedra sem a intervenção do esmalte. As peças são colocadas num forno a lenha, onde são expostas a temperaturas extremamente elevadas, superiores a 1200°C, durante dias. É aqui que a magia acontece, onde o fogo esculpe e pinta, criando padrões e texturas impossíveis de replicar.

Os efeitos das cinzas volantes e as variações na atmosfera do forno contribuem para a criação de padrões e texturas naturais na superfície da cerâmica, tornando cada peça única.

O que torna os objectos Yakishime tão especiais é a sua imprevisibilidade. Cada peça é um testemunho de um momento irrepetível; as variações de cor, textura e forma são influenciadas por factores tão caprichosos como a disposição das peças no forno, a intensidade do fogo e até a direção do vento. Este carácter único e irrepetível faz de cada obra um tesouro, um pedaço da história da terra e do fogo capturado no tempo.

O processo da técnica Yakishime é simultaneamente uma arte e uma ciência. Requer um conhecimento profundo dos materiais e uma sensibilidade aos elementos naturais. Os artesãos de Yakishime não são apenas oleiros; são poetas do fogo, que contam uma história diferente com cada peça, uma ode à impermanência e à beleza da natureza.

Num mundo em que o maciço e o instantâneo são frequentemente valorizados em detrimento do artesanal e do duradouro, esta forma de trabalhar o barro recorda-nos a importância da paciência, do respeito pelos materiais e da beleza que emerge de processos lentos e ponderados. Cada peça não é apenas um objeto, mas uma viagem no tempo, uma ponte entre o passado e o presente que nos convida a refletir sobre a nossa relação com o mundo natural.

Assim, o Yakishime não é apenas uma técnica de cerâmica, mas uma filosofia, uma forma de compreender e interagir com o mundo. Em cada vaso, em cada prato, há uma história, um pedaço de terra e de céu, um sussurro dos antigos mestres oleiros que nos recorda a beleza do simples, do imperfeito, do efémero.

Ao mergulharmos no mundo da cerâmica Yakishime, encontramo-nos num espaço onde o tempo pára, onde cada fenda e cada nuance são uma lembrança da beleza intrínseca do ato de criar. Neste espaço, assistimos à eterna dança entre o homem e a natureza, um diálogo que, através do fogo e da terra, nos revela os segredos mais profundos do universo.

peça da imagem principal: ShineStudiosLLC

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